Instalado no Hotel Valverde, na Avenida da Liberdade, o novo Bougain traz a alma mediterrânica de Cascais para Lisboa, com um jardim encantado e pratos que celebram o prazer da pausa.
Há uma porta discreta na Avenida da Liberdade que se abre para um dos segredos mais bem guardados da cidade. No interior do Hotel Valverde, o jardim — que há mais de uma década encanta quem o descobre — ganha nova vida com a chegada do Bougain Avenida, o mais recente projeto do Grupo São Bento.
Conhecido por acolher com uma hospitalidade rara, o Valverde é há muito a “segunda casa” de muitos habitués, graças ao ambiente cozy e familiar que se sente logo à entrada. Agora, com a abertura do restaurante Bougain, esse ambiente prolonga-se à mesa: buganvílias, mármore verde Guatemala, cocktails de autor e pratos que celebram a cozinha mediterrânica com elegância e despretensão.
Com capacidade para 120 lugares, divididos entre salas interiores e esplanada exterior, o Bougain Avenida é o maior restaurante do grupo até à data. Ainda assim, o ambiente mantém-se acolhedor e pensado ao detalhe: a entrada faz-se por um jardim encantado, onde o verde Guatemala define o tom, enquanto as buganvílias, vindas diretamente de Cascais, conferem um toque de cor.
A esplanada, envolta por vegetação e com aquecimento próprio, foi pensada para funcionar durante todo o ano, seja para um almoço solarengo de inverno, um jantar numa noite de verão ou um cocktail ao final da tarde em plena primavera. No interior, a decoração revela uma fusão de elementos naturais com o conforto urbano, criando um ambiente onde a tranquilidade é a protagonista. A luz suave que atravessa os amplos vidros aquece a experiência, tornando a sala interior um local onde se sente a pausa, longe do ritmo acelerado da cidade.
Clássicos mediterrânicos e um profiterole inesquecível
A cozinha do Bougain é um convite à viagem pela tradição mediterrânica, com pratos que exploram os melhores produtos das cozinhas de França, Itália, Portugal e Espanha. No menu, destacam-se entradas frescas e delicadas como o Carpaccio de vieiras, o Tartar de atum picante e o surpreendente Tartar de beterraba — mas também clássicos da casa que rapidamente se tornaram obrigatórios, como o Lírio curado.
Nos pratos principais, a escolha oscila entre o mar e a terra, sempre com equilíbrio e rigor. Para os amantes de peixe, vale a pena explorar o Robalo-do-mar em papillote ou o Arroz de carabineiros com citrinos, que cruza riqueza de sabor com leveza aromática. Nas carnes, sobressaem propostas como o Steak au poivre, o Pato confitado e o incontornável Beef Wellington — uma assinatura do grupo que continua a conquistar em cada morada.
Para terminar, uma seleção de sobremesas que prolongou o prazer — Profiteroles Chouquette, Doce de queijo de cabra e o Pudim de laranja Bougain. O profiterole, em particular, entrou diretamente para o nosso top 3 de sobremesas favoritas de sempre: massa leve, recheio generoso e o equilíbrio perfeito entre doçura e textura. Tudo acompanhado por um vinho rosé do Douro, Vallado, que ligou com elegância à frescura dos pratos e à leveza do momento.
O bar do Bougain Avenida, com balcão em mármore verde, mantém a herança da casa de Cascais, oferecendo cocktails de autor como o Ginger Basil Smash, o Passion Affair ou o Pink Sour, lado a lado com clássicos intemporais. A carta de vinhos conta com mais de 130 rótulos, com grande foco nos produtores portugueses — tanto os consagrados como os emergentes — e um olhar atento sobre as regiões de França e Itália.
O foco nas pessoas
A operação, que ocupa agora o restaurante e jardim do Hotel Valverde, trouxe também uma nova energia à casa — mas sem perder as raízes. “Toda a equipa anterior do Valverde foi integrada, à qual se juntaram mais 25 pessoas. E foi uma feliz integração: se havia talento, porque não aproveitar?”, comenta Miguel Garcia, fundador do Grupo São Bento. O resultado é uma equipa coesa, onde a experiência se cruza com o entusiasmo, e onde o serviço mantém a elegância descontraída que tem sido a marca do grupo.
Apesar do ritmo acelerado dos últimos anos, Miguel Garcia recusa a ideia de estar em “modo expansão desmedida”. “Apesar de não parecer, eu não estou com a febre do crescimento. É verdade que em três anos foram cinco novos restaurantes — o Grupo São Bento tem agora sete —, e este ano ainda vou abrir mais um em Lisboa, mas no próximo ano, zero. Vou focar-me na consolidação, rentabilidade e… férias”, diz com um sorriso.“Vou obviamente dedicar tempo a cada restaurante, reunir de perto com os gestores para ter a certeza de que a qualidade, as pessoas, a consistência está lá e se precisa de melhorar. Mas a questão das férias começa a ser urgente. Preciso de tirar duas semanas para desligar totalmente, sem ter a tentação de olhar para o telemóvel.”
No centro de tudo, diz, estão as pessoas. “A nossa prioridade número um são as pessoas: um restaurante é serviço e isso não se faz sem pessoas qualificadas (ou que possamos qualificar). Tem de se pensar num plano de negócio a médio prazo: não vou matar a equipa no primeiro mês porque tenho a pressão das contas para pagar. Quero ficar pelo menos 10 anos aqui, por isso o plano de negócios tem de contemplar tempo de evolução nos primeiros 2 meses.”
E Lisboa, acredita, já tem o seu lugar favorito. “O Bougain está no sítio perfeito, em Lisboa. Não o imagino noutro lugar. Pensar que temos este jardim, no coração da Avenida da Liberdade…”, diz.
Tanto por fazer nesta Avenida
Para Miguel Garcia, a localização tem ainda margem para crescer. “Acho que a Avenida da Liberdade tem espaço para muito mais restaurantes. Sobretudo neste segmento de topo, há aqui muita coisa para ser feita. Os restaurantes estão muito espalhados em Lisboa.” O Bougain chega, por isso, como uma proposta com ambição — e com a subtileza de quem prefere deixar que o lugar fale por si.
Ligado à área da restauração desde 1998, Miguel Garcia passou por quase todos os grandes grupos hoteleiros, em Portugal e no Brasil. Foi depois da pandemia de Covid-19 que decidiu ouvir o seu lado mais empreendedor e adquirir o histórico Café de São Bento. Nasceu assim o Grupo São Bento, que caminha hoje para o seu oitavo restaurante, distribuído entre Lisboa e Cascais.
Miguel continua a visitar, diariamente, pelo menos quatro das suas casas, atento a todos os detalhes: da decoração à escolha dos materiais, da carta à forma como o serviço é prestado. Talvez seja essa atenção constante, quase artesanal, o verdadeiro segredo por detrás do sucesso dos seus espaços — restaurantes onde nada parece forçado, mas onde tudo está pensado. “Gosto de estar presente, de prestar atenção a todos os detalhes. Mas não é no sentido controlador. Se fosse um control–freak, com as coisas que vi neste almoço, já tinha morrido aqui”, comenta, entre risos.
Podem, então, todos os seus restaurantes ser considerados um reflexo da sua personalidade? “Sim, mas habituei-me a ser pragmático. Pode haver coisas que me irritam, mas se ninguém está a reclamar, e ninguém morre por isso, não é necessário mudar.” Entre o detalhe absoluto e a arte de saber relativizar, Miguel Garcia construiu uma fórmula invulgar: a de criar lugares bonitos, consistentes e vivos — onde o essencial está sempre no sítio certo.
Bougain Avenida
Av. da Liberdade, nº164, Lisboa
Tel.: +351 912 096 167
Aberto todos os dias, das 12h30 às 24h





















