Com uma equipa de especialistas e uma política de tolerância zero, a Catawiki bloqueou mais de 10 milhões de euros em produtos contrafeitos em 2024 — e o número não para de crescer.
Fomos até Madrid participar num workshop da Catawiki, onde especialistas treinados nos ensinaram a distinguir uma peça de luxo legítima de uma falsificação — por vezes tão bem executada que chega a enganar os mais atentos. As chamadas “superfakes” estão cada vez mais presentes, muitas vezes equipadas com microchips, recibos, embalagens e até certificados forjados com recurso a inteligência artificial. Neste contexto, o olhar humano ainda é a ferramenta mais valiosa na luta contra a contrafação.
Em 2024, os especialistas da Catawiki bloquearam mais de 10 milhões de euros em produtos contrafeitos a nível global — um aumento de 20% face a 2022. Em Portugal, foram intercetados cerca de 250 mil euros em artigos contrafeitos, num universo de 120 mil produtos transacionados. A plataforma registou um crescimento de 30% na actividade no país, com 15% de aumento no número de transações e um fluxo significativo de novos compradores.
As categorias mais atingidas por contrafação foram carteiras (11,37% de artigos rejeitados), artigos de futebol (10,19%) e acessórios de moda (5,80%). Mas o maior crescimento percentual registou-se nas moedas (+190%), seguido das jóias (+50%) e dos ténis e sapatos de marca (+18,57%).
Este fenómeno não é alheio à sofisticação crescente das falsificações, agora impulsionadas por ferramentas como impressão 3D, inteligência artificial e microchips NFC. Esta visita a Madrid permitiu-nos conhecer de perto o universo da Catawiki e perceber como se organiza o seu processo de verificação. A plataforma conta com centros de avaliação altamente especializados, onde cada peça submetida a leilão é analisada com rigor por peritos da área — seja um Rolex em platina, uma carteira Hermès ou ténis de edição limitada. Nada é deixado ao acaso: da curvatura de um fecho à textura de uma gravação, cada detalhe pode ditar o veredito.
É com esse mesmo olhar treinado que os especialistas da Catawiki lidam com os desafios mais complexos da atualidade: das artimanhas nos relógios aos truques escondidos nas carteiras, passando pelas tendências crescentes em jóias, ténis, moedas e até artigos da Disney. O combate à falsificação é levado a sério, e combina tecnologia com aquilo que nenhuma IA consegue replicar: olhos experientes, dedos que reconhecem costuras e uma intuição afinada pela prática.
A anatomia de um relógio falso
Joaquín partilha um exemplo: “Há muitos relógios autênticos que depois são alterados com diamantes não originais. Não é falsificação, mas tem de ser declarado. A Rolex, por exemplo, não aceitará o serviço de um modelo assim.” Na Catawiki, essa transparência é regra: cada peça modificada vem com um aviso claro. “É como o passaporte do relógio: sem o conjunto completo, o valor muda drasticamente”.
Joaquín Fernández Cebrián tem mais de três décadas de experiência em relojoaria e gemologia, tendo começado no negócio de família. Está na Catawiki desde 2016, onde lidera a secção de relógios exclusivos — peças acima dos 1500 euros, de marcas como Rolex, Patek Philippe, Audemars Piguet e Panerai. Especialista em detetar alterações subtis em peças aparentemente genuínas, Joaquín é também colecionador e orgulhoso proprietário de um Breitling adquirido nos anos 1990, que considera um tesouro pessoal. Nas suas palavras, “um bom relógio é como um passaporte: sem o conjunto certo de provas, perde valor”. O seu trabalho passa também por validar relógios com diamantes adicionados aftermarket e garantir que tudo é claramente comunicado aos compradores.
Carteiras: quando o brilho denuncia o embuste
Lorenzo Altimani, especialista em moda da Catawiki, concentra a sua atenção nas carteiras de luxo. A categoria é uma das mais falsificadas em Portugal, com 11,37% de rejeição por suspeita de contrafação. E os exemplos vistos em Madrid confirmam que há cada vez mais “superfakes”: peças que, à primeira vista, parecem absolutamente reais.
“Hermès, Chanel e Louis Vuitton são as mais visadas. Já recebemos carteiras com microchips NFC, recibos autênticos comprados à parte, e embalagens falsas com um grau de detalhe surpreendente”, diz Lorenzo. O que as denuncia? Costuras demasiado perfeitas (as carteiras Hermès são feitas à mão e devem ter pequenas imperfeições), gravações demasiado lisas (quando deveriam ser feitas com martelo) ou logótipos ligeiramente descentrados.
O conhecimento de Lorenzo não vem de um curso tradicional, mas de anos de observação, primeiro como entusiasta, depois no terreno: trabalhou em Harrods e na Armani antes de se juntar à Catawiki. “Muitas vezes, os detalhes são inversos ao que se espera: uma costura irregular é sinal de autenticidade. Uma perfeição artificial denuncia o falso”.
Lorenzo Altimani nasceu em Itália e apaixonou-se por carteiras de luxo ainda adolescente, ao ver vídeos de unboxing no início do YouTube. Estudou gestão, mas foi no mundo da moda que encontrou o seu caminho: passou pela Armani e Harrods, em funções ligadas ao buying e visual merchandising, antes de integrar a equipa da Catawiki em 2020. Trabalha a partir de Itália e é atualmente um dos principais especialistas em moda da plataforma, com foco nas marcas mais visadas pelos falsificadores — Hermès, Louis Vuitton e Chanel.
A sua atenção ao detalhe é quase intuitiva, treinada por anos de observação e experiência no terreno. “Às vezes, é uma costura demasiado regular ou um brilho fora do tom. As superfakes são perigosamente convincentes, mas os sinais estão lá — só é preciso saber vê-los”, afirma.
Superfakes e microchips, o novo campo de batalha da autenticidade
Jóias, ténis, moedas e outras surpresas
Se as carteiras e os relógios lideram em volume e valor, outras categorias crescem silenciosamente. A falsificação de jóias aumentou 50% em Portugal, com falsos Cartier, Bulgari ou Tiffany muitas vezes acompanhados por “certificados” gerados por IA. Nos ténis, a subida foi de 19%, impulsionada pelo apelo do streetwear e da revenda.
As moedas lideram o crescimento absoluto: mais 190% de falsificações detetadas. E até a Disney não escapou: 7,94% dos artigos da categoria foram rejeitados. “Há de tudo: estátuas do Mickey, edições especiais da Elsa, pins, brinquedos vintage…”, partilhou Natalia Accardi, especialista em objetos da Disney.
O lado invisível da plataforma: tecnologia, especialização e controlo
A Catawiki analisa digitalmente todos os objetos antes de os aceitar para leilão. Mais de 100 mil itens são submetidos todos os meses, todos analisados por especialistas. Em 2024, apenas 0,02% dos objetos vendidos foram devolvidos por problemas de autenticidade. Um nível de eficácia que poucas plataformas online conseguem replicar.
“As falsificações são uma realidade infeliz, mas crescente”, afirma Ravi Vora, CEO da Catawiki. “Estamos a fazer tudo o que podemos para as combater: tecnologia, formação constante e uma política de tolerância zero”.
GUIA PARA NÃO SER ENGANADO
1. Desconfie da perfeição – Se a costura parece feita por um robô e o logótipo está perfeitamente centrado, talvez seja demasiado perfeito para ser verdade.
2. Evite brilho exagerado – Dourados muito amarelos, ferragens muito lustrosas e monogramas demasiado saturados. O luxo raramente grita.
3. Analise o som – Sim, som. Sacuda a carteira ou o relógio. Se soar a plástico, talvez não seja couro italiano nem movimento automático.
4. Verifique as etiquetas interiores – Ténis falsos falham muitas vezes na etiqueta da língua: espaçamentos errados, QR codes que vão dar a nada e fontes estranhas.
5. Não confie (apenas) na caixa – Embalagens podem ser reais. O que conta é o interior. Tal como na vida.
Na Catawiki, todas estas pistas são revistas antes que um artigo seja aprovado para leilão. A promessa é simples, mas rara: encontrar peças especiais num mercado de confiança. Para colecionadores, apaixonados ou simples curiosos, essa é a diferença entre comprar um objeto… e investir numa história autêntica.



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