Com mais de 20 anos na Pantene e seis patentes registadas, Jeni Thomas é a cientista que olha para o cabelo como um laboratório em constante transformação. Em conversa com a Fora de Série, explica porque a saúde capilar é hoje tão relevante como a estética.
Analítica de formação e curiosa por natureza, Jeni Thomas não imaginava que o cabelo se tornaria o centro da sua vida científica. Desde adolescente — quando o seu cabelo passou inesperadamente de liso a encaracolado — que se questiona sobre as mudanças que este sofre e o que elas revelam. Hoje, é cientista principal da Pantene e uma das maiores vozes da investigação em saúde capilar, responsável por traduzir avanços moleculares em fórmulas acessíveis ao consumidor.
Trabalha há mais de 20 anos na Pantene. O que a mantém fascinada pela ciência do cabelo?
Quando comecei, pensei que já soubéssemos quase tudo sobre cabelo. Mas cada descoberta abre novas perguntas. É uma jornada sem fim — aprendemos algo e logo percebemos que precisamos de ir mais fundo. É essa sensação de possibilidade constante que me mantém apaixonada.
Recordo que aos 13 anos o seu cabelo mudou radicalmente, de liso para encaracolado. Essa experiência pessoal moldou a sua curiosidade científica?
Como química analítica, qual foi a maior surpresa ao estudar o cabelo?
Descobrir a forma como o nosso complexo provitamina interage de facto com as proteínas do cabelo. Não é apenas “estar lá” — comprovámos que cria ligações reais, fortalecendo a estrutura interna. Foi um momento decisivo: perceber que não é só cosmética, é bioquímica aplicada.
A ciência também ajuda a derrubar mitos. Qual é o maior mito que já esclareceu?
O do enxaguamento com água fria para dar brilho. É um péssimo conselho: a água fria pode deixar depósitos minerais que fragilizam o cabelo. Para um cabelo brilhante e saudável, nada substitui um bom condicionador — e enxaguá-lo em água morna.
Outro mito é que não devemos lavar o cabelo todos os dias. Concorda?
Não, é mesmo um mito. O excesso de oleosidade no couro cabeludo pode gerar danos quando exposto ao sol e à poluição. Se precisa de lavar, lave. O importante é como trata o cabelo depois: usar proteção térmica, por exemplo, antes de secar ou modelar.
Como é que a investigação da Pantene evolui com as tendências de beleza?
As fórmulas mudam — máscaras, cremes, leave-in — para se adaptarem às rotinas atuais. Mas há coisas intemporais: reparar o interior do fio, fortalecer a proteína, proteger contra danos. Só assim é possível ter liberdade para experimentar visuais sem comprometer a saúde.
Pode descrever como nasce um novo produto, do laboratório até às prateleiras?
Tudo começa pela pergunta: o que faz falta às pessoas? Depois estudamos a ciência por detrás dessa necessidade. Só então testamos centenas de fórmulas em laboratório, reduzimos a algumas promissoras e avançamos para estudos de uso real. Dependendo do objetivo, pode demorar seis meses ou dez anos.
A Pantene tem presença global. Como é que os rituais locais influenciam a ciência?
Influenciam muito. No Brasil, por exemplo, há uma cultura de experimentação intensa, com todos os tipos de cabelo. No Japão, a frequência de lavagem é altíssima, o que obriga a criar fórmulas que resistam ao uso diário. Cada mercado é um laboratório vivo.
A colaboração científica também é central. Que diferença faz?
Faz toda a diferença. Um exemplo: trabalhámos com uma universidade em Singapura para provar, com técnicas de ressonância magnética nuclear, que os ingredientes criam de facto ligações moleculares com o cabelo. Essa prova seria impossível sozinhos. É esse olhar externo que nos desafia e nos faz avançar.
Hoje os consumidores pedem transparência e conhecimento. Como responde a essa exigência?
Adoro isso! Significa que podemos partilhar mais ciência do que nunca. Antes pensávamos que não havia interesse. Agora sabemos que sim, e isso ajuda as pessoas a escolherem o regime certo para si.
O futuro passa também pela saúde do couro cabeludo?
Com duas décadas de experiência e seis patentes, o que ainda sonha alcançar?
Continuar a surpreender. Nada me dá mais satisfação do que ouvir alguém dizer “não pensei que o meu cabelo pudesse ser assim tão saudável”. A cada avanço, renovamos essa promessa.







