Jonathan Anderson é o novo diretor criativo da Dior. Com uma visão artística própria e sensibilidade comercial, promete redesenhar os códigos da maison — e talvez da moda contemporânea.
Está confirmado, nem houve tempo para grandes especulações: Jonathan Anderson será o novo diretor criativo da Dior. A notícia chega poucos dias após a saída de Maria Grazia Chiuri, e com um detalhe que a torna histórica — pela primeira vez desde Monsieur Christian Dior, um único criador ficará responsável por todas as coleções da casa: femininas, masculinas e de alta-costura.
A nomeação foi anunciada com entusiasmo por Delphine Arnault, CEO da maison: “Tenho seguido a sua carreira com grande interesse desde que entrou para o grupo LVMH há mais de dez anos. Estou convencida de que ele trará uma visão criativa e moderna à nossa maison, inspirada na fabulosa história de Monsieur Dior.”
A estreia já tem data: 27 de junho, em Paris, com a coleção masculina Dior Men Summer 2026.
O criador certo, no momento certo?
Irlandês, 40 anos, fundador da JW Anderson e, até março, diretor criativo da Loewe (cargo que mantinha desde 2013), Jonathan Anderson é um dos nomes mais influentes da moda contemporânea. Ao longo da última década, transformou a Loewe numa das marcas mais cult do grupo LVMH, com uma narrativa visual muito forte, recurso a técnicas de globais de artesanato e um sentido de moda conceptual que nunca se divorcia do desejo.
Na JW Anderson, soube reinventar-se com ironia e identidade visual marcante — como se viu na camisola com fecho diagonal que se tornou viral ou nas colaborações com a Uniqlo, que levaram a sua linguagem ao grande público. Já na Loewe, elevou o design a um registo quase escultórico: veja-se o sucesso das Puzzle bags, o impacto visual das peças em feltro moldado ou o desfile Primavera/Verão 2023, onde flores naturais brotavam de tecidos como mutações poéticas.
Também deu palco ao artesanato global com o projeto Loewe Craft Prize e trabalhou com ceramistas e artistas têxteis para incorporar técnicas ancestrais nas coleções — como no desfile Outono/Inverno 2022, onde casacos de shearling foram tecidos manualmente em Espanha, com acabamento cru e escultórico.
A marca passou de discreta a influente, tanto junto da crítica como nas redes sociais — mantendo consistência comercial, com crescimento sustentado e um lugar cativo nas listas de marcas mais desejadas do mundo.
Bernard Arnault, CEO da LVMH, sublinhou: “Jonathan Anderson é um dos maiores talentos criativos da sua geração. A sua assinatura artística será um trunfo crucial para escrever o próximo capítulo da história da maison Dior.”
A nova Dior e o peso do legado
A escolha de Anderson é estratégica. Depois de uma década de estabilidade com Chiuri, a Dior volta a arriscar numa abordagem autoral, conceptual e, à partida, mais disruptiva. A herança de Chiuri — feminista, comprometida, internacional — não será ignorada, mas Anderson trará, sem dúvida, uma nova gramática visual.
E não só. A sua nomeação para liderar todas as linhas da maison é uma afirmação de confiança rara num criador que vem de “dentro do grupo”, mas cuja linguagem pode desconstruir o clássico com agilidade. Em tempos de incerteza no luxo, este gesto aponta para a intenção de consolidar uma identidade coerente e contemporânea, menos dependente de fórmulas previsíveis.
O próprio Anderson, no comunicado oficial da Dior, assume o peso e o entusiasmo: “Sempre me senti inspirado pela longa história desta casa, pela sua profundidade e empatia. Estou ansioso por trabalhar com os seus lendários Ateliers para criar o próximo capítulo desta incrível história.”
Com Anderson, é provável que a Dior entre num território mais experimental, onde a moda se cruza com arte, ironia, memória e provocação — tudo sem perder de vista a excelência dos ateliers. A sua paixão pelo trabalho manual, pela reinvenção de clássicos e pela teatralidade discreta poderá transformar tanto o vestuário como a cenografia dos desfiles.
Também será interessante ver como o designer irá construir a nova linha feminina da maison — um terreno onde nunca foi testado a esta escala —, e de que forma articulará as identidades masculina e feminina sob um mesmo vocabulário.
Demasiado talento para tão pouco fôlego?
A nomeação de Jonathan Anderson para liderar todas as linhas criativas da Dior foi recebida com entusiasmo, mas também com surpresa. Pelas redes sociais começaram a circular memes que dizem tudo: “Quando o Jonathan perceber que tem 16 coleções para desenhar por ano…” ou “Ele só queria dormir”.
Não é exagero: entre Prêt-à-Porter, Alta-Costura, Cruise, Pre-Fall, Masculino e Feminino, o calendário criativo da Dior exige fôlego de maratonista e foco absoluto. Uma exigência que já levou outros criadores ao limite — e que relança a pergunta que muitos se fazem há anos: não estaremos a pedir demais?
Mas talvez seja precisamente por isso que Anderson foi escolhido. Porque já provou que consegue gerir complexidade com consistência, e porque sabe transformar o excesso em conceito. A sua maior força pode estar na capacidade de fazer da exaustão um novo ponto de partida criativo.







