Linda Farrow e Simon Farrow Jablon, mãe e filho, voltam às origens da marca de óculos que alia luxo técnico a uma criatividade inconfundível. Ao lado, Ana e André Leal, da André Ópticas, contam a história de uma afinidade que resiste ao tempo e ao mercado.
Duas gerações, dois países, uma mesma linguagem estética. Quando se juntam Linda e Simon Farrow, fundadora e atual diretor criativo da marca Linda Farrow, e Ana e André Leal, da André Ópticas, o resultado é uma partilha de valores, de percursos familiares e de uma visão muito própria sobre o que significa criar — e manter — um produto de luxo ao longo das décadas.
Simon tinha apenas 22 anos quando assumiu os destinos da marca fundada pela mãe em 1970. A decisão foi tudo menos óbvia. “Não queria fazer isto”, confessa. “Cresci a ver os meus pais a trabalharem juntos, num negócio de família, e pensei que queria algo diferente.” O desejo de seguir uma via criativa, talvez no design de interiores ou mobiliário, estava lá. Mas o mundo dos óculos, familiar, intuitivo, acabou por puxá-lo de volta. “Foi como não começar algo novo, mas continuar aquilo que já estava em mim.”
Esse regresso às raízes está, aliás, no centro da nova coleção “Iconic”, apresentada em Lisboa com a André Ópticas. É uma viagem ao arquivo dos anos 70, com peças reinventadas e a recuperação de uma narrativa por vezes esquecida. “Contamos tantas histórias, acompanhamos tantas tendências, mas muitas vezes esquecemo-nos de contar a nossa. Achamos que as pessoas conhecem a história da marca, mas não é bem assim”, explica Simon.
Linda, já retirada da gestão ativa, acompanhou de perto este reencontro com o passado. “Foi nostálgico e muito bom. Lembro-me exatamente de onde usava certas peças. Vieram-me à memória momentos, lugares, situações.” E sim, o gesto de reabrir caixas guardadas durante décadas foi também um reencontro emocional.
Recriar o passado com muito futuro
Mas a marca não vive de nostalgia. Simon insiste: “Não se trata de regurgitar o vintage. É uma evolução. A inspiração está no passado, mas a nossa intenção é empurrar os limites e olhar para a frente.” O que era visionário nos anos 70 transformou-se, com a evolução da tecnologia e dos materiais — como o titânio ou lentes de última geração — numa abordagem que alia tradição a inovação. Um exemplo? O uso de acetato reciclado, sobretudo em peças pretas, como forma concreta de minimizar o desperdício no fabrico — sem nunca cair na tentação do greenwashing. “A sustentabilidade não pode ser um slogan. Está na forma como escolhemos os fornecedores, os materiais, os locais de produção, a logística.”
O tempo é outro aliado — e prova. “Demoramos cerca de 22 meses desde o desenho até ao produto final. É um processo lento, mas necessário para garantir funcionalidade, conforto e longevidade. Por isso sim, somos slow luxury.”
Laços que perduram
Esse ritmo calmo, porém firme, é também o que marca a relação de longa data com a André Ópticas. “A ligação à Linda Farrow não é apenas comercial. É uma marca que nos toca emocionalmente”, diz André Leal. “Mesmo se um dia os números não sejam os melhores, manteríamos a marca. Faz parte de quem somos.”
A loja portuguesa tem vindo a apresentar a marca com consistência ao longo dos anos, numa relação que se construiu fora dos circuitos fáceis da moda. “É uma marca que exige algum conhecimento. Os clientes sabem o que procuram. São apaixonados por óculos. Não querem parecer-se com os outros”, explica Ana Leal. “Trabalhar em família tem os seus desafios, claro, mas o essencial é termos uma base de valores comum.”
Esse paralelismo entre as duas famílias — os Farrow e os Leal — reforça a ideia de que o luxo não se mede só em números, mas na permanência de uma visão. “No início, procurei o aval da minha mãe nos meus primeiros desenhos. Ela disse-me: ‘Segue o teu instinto. Se tentares agradar a todos, deixas de criar de forma autêntica.’ Isso deu-me liberdade. E a liberdade é essencial para criar algo verdadeiro.”
Simon fala da criatividade como um processo contínuo, onde cada pormenor do quotidiano pode ser um gatilho. “Chamo-lhe o terceiro olho. Vês coisas que estão sintonizadas com os teus interesses. Um puxador de porta, um reflexo num espelho, uma dobra de tecido — tudo pode ser ponto de partida.” Linda concorda: “A inspiração vem de estarmos atentos. Sempre foi assim. Um detalhe que se vê e não se esquece.”
Lisboa, nesse sentido, entra também como cenário inspirador. “Adoro a cidade. Tenho amigos aqui, e acredito que saio sempre com ideias novas depois de visitar sítios bonitos. Por isso, sim, esta cidade já me inspirou — mesmo que inconscientemente.”
Num mundo onde as marcas lutam por visibilidade efémera, a história da Linda Farrow e da André Ópticas é uma lição de consistência. E talvez por isso o reencontro com o passado não soe a melancolia, mas a missão que resiste ao tempo.
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