A maior exposição alguma vez realizada em Portugal sobre a II Guerra Mundial já soma mais de dois mil visitantes em pouco mais de uma semana. No Museu do Caramulo, tanques, jipes e motos contam histórias de um conflito que mudou o mundo.
O peso da História mede-se, muitas vezes, em datas redondas. Em 2025 cumprem-se 80 anos sobre o fim da Segunda Guerra Mundial — a guerra das guerras, que deixou cicatrizes no mapa político, na economia global, na cultura e até no modo como vivemos hoje. Foi com este enquadramento que o Museu do Caramulo inaugurou a exposição “A Segunda Guerra Mundial ao Vivo e a Cores”, a mais extensa e ambiciosa da sua história, já com mais de dois mil visitantes na primeira semana.
Veículos que fizeram História
São 36 máquinas originais, cada uma com uma narrativa própria. O visitante encontra, por exemplo, um tanque Sherman M4, peça fundamental das forças aliadas na libertação da Europa, cuja robustez lhe valeu a alcunha de “a espinha dorsal do exército americano”. A poucos metros, destaca-se um Panzer IV alemão, testemunho da engenharia bélica do Terceiro Reich, cuja presença em diversos teatros de operações lhe conferiu o estatuto de símbolo da ofensiva nazi.
Não faltam veículos de comando e transporte, como o lendário Willys Jeep, companheiro inseparável das tropas americanas em África, Itália e Normandia, ou o Kübelwagen da Volkswagen, criado sob encomenda de Hitler para rivalizar em leveza e versatilidade. Para missões especiais, pode ver-se ainda um raríssimo Schwimmwagen, um veículo anfíbio alemão capaz de se mover com igual destreza em terra e na água, que demonstra até onde chegava a imaginação (e a urgência) em tempos de guerra.
A exposição abre igualmente espaço para veículos menos conhecidos, mas igualmente reveladores: motos BMW R75 com sidecar, usadas tanto para transporte rápido de soldados como para comunicações, ou bicicletas militares adaptadas, lembrando que nem sempre a guerra se movia a motor. A raridade de uma moto com lagartas, desenvolvida para terrenos lamacentos e difíceis, acrescenta surpresa e originalidade ao conjunto.
Para além das máquinas
Os veículos são apenas o início da viagem. Ao seu redor, alinham-se centenas de artefactos originais vindos de países tão diversos como os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, União Soviética, Japão e até Portugal. Capacetes, uniformes, rádios, mapas, bandeiras, armas ligeiras e objetos do quotidiano ajudam a compreender como a guerra não se travava apenas nas frentes de combate, mas também nas frentes domésticas, onde a propaganda, o racionamento e a resiliência eram parte da luta diária.
Um simples cartaz pode contar tanto quanto um tanque: nele se revela a importância da comunicação visual para mobilizar soldados e civis. Uma máscara de gás infantil recorda o medo constante dos ataques aéreos. Uma carta manuscrita transporta-nos para as emoções de quem viveu à espera de notícias da frente de batalha.
A guerra em imersão
O Caramulo quis também dar vida a esta memória de forma sensorial. Por isso, desenvolveu de raiz uma experiência de Realidade Virtual que coloca o visitante no coração de cenários emblemáticos da Segunda Guerra. Mais do que ver, é sentir o ambiente de um campo de batalha, escutar os sons, quase tocar o frio do metal. Um recurso que aproxima as gerações mais jovens de um acontecimento cada vez mais distante, mas essencial para compreender o século XX.
Uma mostra sem precedentes
“Esta é a maior exposição alguma vez levada a cabo pelo Museu do Caramulo, em produção, investimento e área expositiva”, afirma Salvador Patrício Gouveia, presidente da instituição. Para receber todo este espólio, foi necessário acrescentar 900 metros quadrados à área de visita, através da adaptação de um hangar.
O Museu do Caramulo, fundado em 1953 e conhecido pelo seu acervo de automóveis clássicos, brinquedos antigos e arte, reforça assim a sua vocação de contar histórias através de objetos. Histórias de velocidade, inovação, mas também de dor e de coragem. Nesta exposição, cada veículo, cada peça, é uma cápsula de memória que ajuda a perceber como o mundo mudou há oito décadas — e porque importa nunca esquecer.
“A Segunda Guerra Mundial ao Vivo e a Cores”
Museu do Caramulo – Fundação Abel e João de Lacerda
Rua Jean Lurçat, nº42, Caramulo
Tel.: 232 861 270
E-mail: info@museudocaramulo.pt
Até 19 de Outubro






