Quando recorda o legado de 25 anos da Antarte, Mário Rocha cita Frank Sinatra: “I did it my way”. O CEO da Antarte criou com capitais próprios o único museu da marcenaria do mundo.
Mário Rocha, fundador e CEO da Antarte, personifica a arte de transformar paixão em legado. Apaixonado pela marcenaria desde jovem, iniciou a sua trajetória aos 16 anos, trabalhando na empresa do pai, que era uma referência no setor de mobiliário em Portugal. Aos 25 anos, decidiu deixar a zona de conforto e fundar a Antarte, uma marca que seria sinónimo de design intemporal e responsabilidade social. Hoje, à frente de uma das marcas mais prestigiadas do país, Mário Rocha equilibra a tradição artesanal com a inovação tecnológica, consolidando a Antarte como um nome que atravessa fronteiras e gerações.
A Antarte nasceu com um propósito claro: criar móveis que combinassem funcionalidade, conforto e estilo único, rejeitando o luxo excessivo e priorizando uma linguagem de design que se conectasse emocionalmente com os clientes. “O nosso diferencial é a capacidade de criar relações duradouras com os clientes e entregar produtos que respeitam tanto a marcenaria tradicional quanto a procura contemporânea por sustentabilidade e inovação”, explica em conversa com a Fora de Série. Essa filosofia norteou a expansão da marca, que hoje está presente em quatro continentes e procura explorar novos mercados, como o norte-americano e o do Médio Oriente.
A produção da cadeira de descanso do Papa Francisco é um exemplo claro da visão de Mário Rocha para a Antarte. A peça, realizada em coordenação com o Vaticano, combina fibras naturais, como linho e algodão, trabalhadas em teares artesanais, com a precisão da impressão 3D usada para criar o brasão do Vaticano. “Esse projeto mostra como respeitamos as nossas raízes artesanais enquanto utilizamos tecnologias de vanguarda para corresponder às mais altas expectativas”, afirma.
Projetos como este não apenas reforçam a relevância da Antarte no mercado internacional, mas também envolvem os colaboradores da empresa num nível de exigência e compromisso excecionais. “Os nossos colaboradores sentem-se honrados por fazer parte de iniciativas que exigem um patamar de excelência que vai muito além do comum”, complementa o CEO. Essa abordagem colaborativa e inovadora também está presente em parcerias com personalidades como o arquiteto Siza Vieira e a artista Joana Vasconcelos, que transformam cada projeto numa experiência única.
Da sustentabilidade à internacionalização
A internacionalização é um dos grandes pilares da estratégia de Mário Rocha para a Antarte. Atualmente presente em mercados tão diversos quanto Europa, África e Médio Oriente, a marca está a estudar uma expansão para os Estados Unidos e planeia ampliar a sua presença no Golfo da Arábia. “A entrada em novos mercados exige uma análise detalhada da procura local, da concorrência e dos custos iniciais de investimento. Cada passo é cuidadosamente calculado para garantir que possamos oferecer uma experiência à altura da nossa reputação”, explica Rocha.
Outro aspeto fundamental é o compromisso da marca com a sustentabilidade. A iniciativa Love Nature by Antarte é um exemplo concreto: a distribuição de 50 mil árvores nativas para reflorestar diferentes regiões do país. Além disso, a Antarte tem investido em matérias-primas renováveis e em processos de produção que minimizam o impacto ambiental, mantendo um equilíbrio entre a tradição artesanal e a procura por inovação.
Liderança e legado: o que move Mário Rocha
Mário Rocha acredita que liderar uma empresa como a Antarte é um compromisso com valores que vão desde a equidade até a responsabilidade social. “O verdadeiro luxo é criar peças que atravessam o tempo, moldam os espaços e incorporam princípios sustentáveis”, diz o CEO, que também defende a importância de devolver à sociedade os benefícios gerados pela atividade empresarial. “O meu sonho é tornar a Antarte numa marca ainda mais global e de que os portugueses se orgulhem, à semelhança de um lote restrito de marcas que podemos considerar autênticas bandeiras do Made in Portugal”, diz.
O seu próximo grande desafio? A construção do Pavilhão de Portugal na Expo Japão, em Osaka, um projeto que simboliza a ambição da Antarte de ser mais do que uma marca de mobiliário: uma bandeira da criatividade e da inovação portuguesas no cenário global. Sob a direção do arquiteto japonês Kengo Kuma e com coordenação da arquiteta portuguesa Rita Topa, o projeto é inspirado no tema “The Ocean | Blue Dialogue” e na sustentabilidade. A Antarte está responsável por materializar mais de 40 peças de mobiliário, incluindo sofás, mesas e bancos para áreas como o restaurante, cafetaria e lounge VIP. Em grande destaque está a mesa do Livro de Honra, composta por 177 peças de madeira de freixo nacional, torneadas manualmente em mais de 200 horas de trabalho artesanal. Um projeto que reafirma a capacidade da Antarte de combinar design inovador com o saber ancestral da marcenaria portuguesa, elevando o Made in Portugal a um patamar de excelência global.
Com uma gestão familiar que valoriza a proximidade, mas também a excelência, Mário Rocha segue a moldar o futuro da Antarte e a inspirar outros a sonhar alto, sempre com um olhar no legado que deixa às gerações futuras.
Antarte Museum e a celebração da marcenaria
A criação do Antarte Museum é um reflexo direto da paixão de Mário Rocha pela marcenaria. “O Antarte Museum é um sonho tornado realidade. Surge do meu bichinho do colecionismo e da minha paixão pela Marcenaria. As minhas viagens pelo mundo também me fizeram perceber a inexistência de um museu dedicado à história da Marcenaria”, conta. Inaugurado após três anos de pesquisa e com investimento exclusivamente privado, o museu é o primeiro do mundo dedicado à história desse ofício que está documentado desde tempos bíblicos, em que Noé recorreu a esta arte para construir a sua arca. Mais do que uma exposição de peças e técnicas pertencentes à coleção privada de Mário Rocha, o espaço é uma declaração de compromisso com a responsabilidade cultural. “Queríamos criar algo que fosse muito além da história da nossa empresa. O museu mostra a evolução de um ofício que é um estandarte do Made in Portugal e um motor económico com impacto local e internacional”, destaca Rocha.
Entre as principais atrações do museu estão o torno em madeira do século XVIII e uma máquina de furar de coluna vertical da mesma época, além de uma escultura assinada por Siza Vieira, que também participou na criação de uma instalação para o pavilhão do Vaticano na Bienal de Veneza em 2023. “O Antarte Museum é um orgulho não apenas para a nossa empresa, mas para a região de Paredes, sendo o único museu local a atrair visitantes nacionais e internacionais”, completa o CEO.
















