Portugal reforça a sua posição como destino estratégico no mapa global do luxo. No primeiro semestre de 2025, a Sotheby’s Portugal registou um crescimento de 34% nas transações e de 40% na faturação — sinais de um mercado em plena maturação, como sublinha o CEO Miguel Poisson.
Portugal está a reposicionar-se no mapa do investimento de luxo com uma combinação rara de atributos tangíveis e intangíveis. O relatório Mid-Year Luxury Outlook da Sotheby’s aponta para um crescimento significativo nas transações e na faturação — sinais claros de um mercado com capacidade para liderar, não apenas acompanhar, a nova era do luxo global.
No primeiro semestre de 2025, a Portugal Sotheby’s International Realty registou um aumento de 34% no número de transações e uma subida de 40% na faturação. Estes dados, espelhados no relatório agora divulgado, ilustram não só a robustez da operação da marca no segmento premium, como também um novo ciclo de confiança e atratividade que tem vindo a consolidar-se.
“Portugal tem todas as condições para ser não apenas um mercado de luxo periférico, mas um epicentro europeu de lifestyle premium”, defende Miguel Poisson, CEO da Sotheby’s Portugal.
O crescimento notável da Sotheby’s em Portugal é impulsionado por fatores que vão além da conjuntura. Há um movimento de afirmação sustentado que tem tanto de económico como de emocional. “Investir em imobiliário de luxo em Portugal é mais do que uma decisão económica. É uma escolha estratégica de vida”, defende.
Miguel Poisson identifica três motores deste desempenho: a atratividade estrutural do país, a diversificação dos compradores e o dinamismo de novas geografias no mapa do luxo. A estabilidade política, o clima ameno, a qualidade da gastronomia e uma hospitalidade reconhecida internacionalmente mantêm-se como valores seguros, mas são hoje complementados por uma rede de infraestruturas cada vez mais sofisticada e uma oferta cultural e arquitetónica em expansão.
“Portugal deixou de ser só ‘um país interessante no sul da Europa’. Hoje, está no topo das escolhas de quem procura ativos premium com retorno emocional e patrimonial”.
Uma procura cada vez mais diversificada
No primeiro semestre deste ano, os compradores portugueses representaram 50% das transações da Sotheby’s. Um dado relevante, que revela uma maturidade crescente do mercado interno — mas também uma mudança no perfil de compra.
“O cliente português de luxo evoluiu: deixou de comprar por status e passou a comprar por exigência técnica e emocional”, frisa o responsável.
Hoje, os compradores nacionais valorizam sustentabilidade, eficiência energética, tecnologia e design funcional. A localização continua a contar, mas deixou de ser tudo. Há uma procura real por zonas emergentes como Marvila, Alcântara ou Beato, onde o luxo se mede pela luz, pelo silêncio, pela autenticidade.
“Este novo luxo urbano é menos protocolar e mais sensorial. Não depende do código postal, mas da experiência do lugar”.
Já do lado internacional, destacam-se os norte-americanos, britânicos e brasileiros, com um crescimento relevante também dos alemães. No Algarve, o novo voo direto entre os Estados Unidos e Faro tem acelerado a procura por moradias com vista mar, piscinas, jardins e serviços de concierge. Na Madeira, são as famílias do norte da Europa que descobrem um refúgio com clima temperado, segurança e elevados padrões de construção.
O Porto, caso de fidelização
Entre os vários focos de atratividade, o Porto destaca-se como um caso exemplar de fidelização de compradores internacionais. Muitos começam por adquirir apartamentos T1 ou T2 no centro histórico — um primeiro passo, muitas vezes estratégico, para testar o país. Mas a experiência convence.
“Temos verificado que esses compradores voltam, prolongam a sua estadia e investem em imóveis de maior valor. É um sinal claro de fidelização, não só ao país, mas ao ativo como pilar de um novo projeto de vida.”
Tipologias como T3, T4 ou moradias na Foz e Boavista estão agora no centro das preferências. A cultura, a gastronomia e a hospitalidade do norte reforçam essa adesão emocional a um estilo de vida mais enraizado e menos efémero.
Um mercado cada vez mais líquido
Segundo o relatório global da Sotheby’s, 88% das transações no segmento de luxo foram feitas a pronto pagamento. Um dado que diz muito sobre o perfil dos compradores — e sobre as suas prioridades.
“Falamos de clientes com elevada liquidez e uma lógica patrimonial de longo prazo, que vêem o imóvel como extensão do seu estilo de vida e até do seu legado familiar.”
Este tipo de comprador exige imóveis prontos a habitar, com assinatura arquitetónica, integração com a natureza, acabamentos de excelência e, sobretudo, identidade. Singularidade e intuição contam mais do que metros quadrados. “O que conta é a história, a autenticidade e o impacto emocional do imóvel”, reforça Miguel Poisson.
Tendências globais e aprendizagens úteis
O relatório Mid-Year Luxury Outlook destaca ainda cinco geografias com dinâmicas relevantes: Índia, Porto Rico, São Francisco, zonas costeiras vulneráveis a fenómenos naturais e mercados secundários nos EUA. De mercados emergentes a cidades em reinvenção, o que une estas realidades é a sua capacidade de responder às novas exigências do luxo contemporâneo: autenticidade, contexto cultural e exclusividade com sentido.
“Estas geografias mostram-nos que a valorização do imobiliário de luxo não depende apenas da tradição, mas da forma como se adapta às tendências de lifestyle e ao perfil do novo comprador global.”
Um exemplo disso é a procura crescente por zonas de risco climático. Paradoxo? Nem tanto. “O luxo hoje também passa pela capacidade de reinventar o espaço físico em diálogo com a natureza, mesmo quando esta se apresenta mais imprevisível.”
O que vem aí?
Quando se olha para o futuro, Miguel Poisson identifica cinco vetores fundamentais que vão moldar o imobiliário de luxo até 2030: a sustentabilidade, não como conceito genérico, mas como prática mensurável, com certificações energéticas robustas, materiais com baixa pegada ambiental e soluções de reaproveitamento de recursos; a integração com a natureza, visível na procura por imóveis com vista desafogada, jardins verticais, pátios interiores e uma arquitetura que dialoga com o espaço envolvente, mesmo em contexto urbano; a valorização da exclusividade personalizada, onde a autenticidade, a história e a possibilidade de personalização suplantam qualquer ostentação; a tecnologia discreta — domótica, segurança inteligente, gestão remota — que oferece conveniência sem interferir com a estética do espaço; e, por fim, uma nova centralidade da experiência, em que o imóvel é refúgio, espaço de contemplação e lugar de encontro.
“A casa será, cada vez mais, um refúgio e um espaço de contemplação e conexão. E Portugal está extraordinariamente bem posicionado para liderar essa nova era.”
Três desafios para o futuro
Para que essa liderança se concretize, há ainda três desafios estruturais a ultrapassar: o primeiro é o das infraestruturas e do planeamento urbano. Se queremos atrair e reter investimento de luxo, as cidades e regiões envolvidas precisam de responder com mobilidade eficiente, requalificação cuidada e uma integração harmoniosa entre o novo e o património existente. O segundo desafio passa por acelerar e simplificar os processos burocráticos, garantindo previsibilidade e transparência na aprovação de projetos e licenças. Por fim, o terceiro desafio prende-se com a escassez de produto verdadeiramente diferenciado. Faltam moradias de alta gama e empreendimentos com serviços integrados de luxo — e é aqui que ganham peso as parcerias com arquitetos de renome, marcas internacionais e propostas de habitar com identidade curada.
“Portugal precisa de preparar o seu território — físico e institucional — para responder às novas exigências globais. Temos tudo para continuar a surpreender e a atrair o comprador mais exigente. Mas temos de fazer esse caminho com visão e consistência”.







