Novos dados mostram uma inversão no retalho português: impulsionado pelo turismo, o comércio de rua ganha fôlego, atrai investimento e volta a conquistar as grandes marcas.
Durante anos, o retalho português seguiu um percurso previsível: expansão acelerada de centros comerciais, hábitos de consumo formatados pelo conforto indoor e marcas concentradas em grandes superfícies. Mas os números mais recentes contam outra história — uma que começa a escrever-se à superfície, nas ruas de Lisboa e do Porto, e que tem o turismo como personagem principal.
Segundo o mais recente relatório da aRetail e da Gesvalt, 71% das novas aberturas comerciais em Portugal, em 2024, aconteceram fora dos centros comerciais. São números que refletem uma mudança estrutural: o mercado de rua — há muito secundarizado — está de volta, com rendas em alta, maior atratividade para investidores e novas estratégias por parte das marcas.
Lisboa em modo vitrine, Porto em modo upgrade
A Avenida da Liberdade continua a ser o endereço mais desejado do país. Das 131 lojas existentes, apenas 7% estão vagas, num contexto de forte interesse por parte do segmento de luxo. A taxa de rendimento (yield) ronda os 4,25% a 5%, colocando a avenida entre os destinos prime mais competitivos da Europa.
Mais abaixo na cidade, há movimento também no mass market. A Praça do Rossio, Rua Augusta, Rua do Carmo e Rua Garrett vivem um novo ciclo de dinamismo, com marcas como Zara, Brownie, Pandora, Primor e New Balance a reforçarem presença. Lisboa destaca-se ainda como a região com maior rendimento bruto per capita (27.262 €/ano), responsável por cerca de 34% do PIB nacional, atraindo marcas e investidores internacionais.
No Porto, o crescimento do turismo (13 milhões de dormidas em 2024, mais 6,6% face ao ano anterior) está a reconfigurar a paisagem urbana — e comercial. A Rua de Santa Catarina e a Avenida dos Aliados são hoje as duas principais artérias de retalho da cidade, com rendas prime a atingir os €85/m²/mês. A futura abertura da Primark nos antigos espaços da C&A e da Fnac simboliza esta transformação.
Nos Aliados, os edifícios degradados estão a ser convertidos em hotéis com lojas no piso térreo. E Santa Catarina está a viver uma vaga de reabilitação com fins comerciais. Os espaços disponíveis são mínimos: 3% nos Aliados, 3% em Santa Catarina. Há sinais tímidos de que o luxo também começa a sondar o Porto — mas por agora, o foco está na atratividade da cidade como polo urbano e comercial.
Uma mudança em curso
O mercado de retalho em Portugal continua a ter os centros comerciais como principais canais de consumo — com cerca de 60% de quota, especialmente junto do consumidor nacional. Mas os turistas, esses, consomem de forma diferente: andam, exploram e compram nas ruas. E é isso que está a puxar pelo modelo High Street.
A previsão para 2025 é animadora: estima-se que o investimento no setor ultrapasse os dois mil milhões de euros, um crescimento de 8% face ao ano anterior. A conjugação entre reabilitação urbana, expansão do turismo e novas exigências de visibilidade e posicionamento por parte das marcas está a desenhar um novo mapa do comércio — mais próximo das pessoas e das cidades.







