No Dubai, entre terapias holísticas e uma gastronomia vibrante, encontrámos um refúgio de bem-estar. Do Hammam ao sound healing, de brunches saudáveis a jantares exóticos, uma viagem para os sentidos.
Dubai, cidade de contrastes, é muitas vezes associada à sua arquitetura futurista, ao ritmo acelerado e ao luxo exuberante. No entanto, por entre os arranha-céus e as avenidas movimentadas de dia e de noite, descobrimos um lado inesperado: um refúgio de bem-estar e de autoconhecimento. Esta viagem não foi apenas uma imersão na energia vibrante da cidade, mas também um convite para desacelerar e redescobrir o equilíbrio.
Ao longo desta jornada, a Fora de Série entregou-se a rituais de purificação profundamente enraizados em tradições ancestrais, participou em experiências de partilha e conexão, explorou práticas de relaxamento e som, e mergulhou em terapias de regeneração física e mental. Cada momento foi uma oportunidade para nos reconectarmos e descobrir um Dubai diferente – um verdadeiro oásis de bem-estar no meio de uma paisagem intensamente urbana.
DIA 1
Talise Ottoman Spa | Zenzi Beach | The View | Soul Kitchen
Acabámos de chegar, mas o cansaço pega-se ao corpo. A viagem de Lisboa, sem incidentes, terminou de madrugada. Entre recolha de bagagens, verificação de passaportes e transfer para o hotel, demos entrada na suite do Anantara The Palm Dubai resort – onde ficámos o resto da semana – já a contar pelos dedos de uma mão as horas de sono que tínhamos pela frente.
Logo a seguir ao pequeno-almoço, ainda a estranhar o tom azul do céu e a temperatura amena (largámos Lisboa debaixo de chuva intensa e um frio de rachar), iniciávamos a nossa jornada pelo Dubai mais zen. E começámos com chave de ouro, com uma Royal Ottoman Hammam Experience, no spa Talise Ottoman, no opulento resort Jumeirah Zabeel Saray. Felizmente a distância foi curta, nem chegámos a sair da The Palm, a ilha artificial em forma de palmeira que foi construída sobre o mar.
Caem-nos os queixos ao entrar nas instalações do Hammam turco, exclusivo para mulheres (há outro piso para homens e uma outra área reservada a casais, neste que é um dos maiores spas do mundo). A arquitetura é impressionante, com paredes em mármore, tetos desenhados, mosaicos coloridos e candeeiros inspirados na cultura do Império Otomano – não é à toa que ganhou o World Spa Award em 2022 e, no mesmo ano, foi listado pela Forbes como um dos 10 melhores Hammam turcos do Dubai.
O tratamento, a melhor experiência de wellness de que desfrutámos até hoje, é feito durante uma hora sobre uma goebekta, uma “cama” de pedra de forma octogonal, aquecida e que fica bem no centro da sala, onde permanecemos deitados enquanto uma terapeuta se encarrega de nos esfoliar o corpo todo com uma luva chamada kese, com o silêncio circundante a ser interrompido apenas pelo jorrar de água morna sobre cada centímetro do corpo, esfregado minuciosamente. A sensação é de que nos lavam tudo, até a alma, num ambiente quente e húmido, a fazer lembrar um regresso ao ventre materno. Seguiu-se uma massagem dos pés à cabeça com uma nuvem de espuma, deixando um toque de limpeza profunda, uma pele aveludada. E depois da limpeza, veio a hidratação corporal, com uma mistura de mel, lavanda e sementes de sésamo inspirada na filosofia ancestral de cura turca. Para finalizar, um revigorante banho de água fria para estimular a circulação.
A pressa não tem lugar aqui. Ainda há tempo para relaxar no Royal Majlis, a lindíssima zona de relaxamento, com almofadas e sofás a rodearem o enorme jacuzzi de água morna, que convida a um mergulho pós-tratamento. Este é apenas um dos vários tratamentos que o Talise Ottoman oferece, entre hammams, saunas, banhos turcos, salas de gelo, lounges de relaxamento e piscinas de água salgada para thalassoterapia.
Saímos do spa leves e revigoradas, diretas para um muito ameno almoço na esplanada em cima da praia do Zenzi Beach, ainda no Zabeel Saray. O ambiente é de total descontração, uma vibe muito de praia, que pede cocktails coloridos a acompanhar a cozinha mediterrânica da casa. Com o final de Inverno chuvoso que se fazia sentir em Portugal, era de bom grado que passávamos por ali, com os pés na areia, o resto da tarde. Mas seguia-se uma nova experiência, desta vez nas alturas: seguimos para o observatório The View, conhecido por ter a melhor vista do Dubai, 240 metros acima da famosa Palm Jumeirah, com vista privilegiada, a 360 graus, sobre os 17 ramos da palmeira, o golfo da arábia e a skyline cada vez mais extensa da cidade. Subimos ao 52º andar, saímos para o terraço ao ar livre e subimos mais dois andares até ao ponto mais alto, o lounge premium, The Next Level, para desfrutar da paisagem. É de cortar a respiração.
Com o sol a desaparecer no horizonte, recolhemos ao hotel para nos prepararmos para a noite. O destino é o super-trendy restaurante Soul Kitchen, local de movida onde os locals do Dubai se divertem – a população do Dubai é formada maioritariamente por expats, que procuram conviver em lugares como este, que juntam a música, a gastronomia, a arte e a comunidade.
O ambiente é de festa: uma banda local toca ao vivo, grupos animados conversam junto ao balcão. Há quem dance entre as mesas, de cocktail na mão. O Soul Kitchen, que foi nomeado para a Hot List da Condé Nast Travller de 2024, é uma ode à diáspora árabe que, desde o século XIX, levou a sua cultura a sabores até à América Latina. A cozinha reflete essa fusão de culturas, num mix criativo a que apelidaram de LéLa (Levante + Latina), que celebra a migração, a resiliência e o intercâmbio cultural. Não nos espantamos, pois, de encontrar na carta Ceviche Tabule, Empanadas Shawarma, Kafta Arepas ou Hummus Chimichurri, criados pela chef executiva Margarita Vaamonde. Tudo para partilhar e delicioso.
DIA 2
Atlantis The Royal | Spa Awaken | Ariana Persian Kitchen | Paus; | Nara by The Sea
O Atlantis The Royal respira moda por todos os poros. É aqui que fica o famoso clube Cloud 22, da marca italiana Dolce & Gabbana, com uma impressionante skypool frequentada pela elite internacional. Encontramos boutiques das grandes griffes por todo este luxuoso hotel, para não falar na impressionante coleção de restaurantes de chefs Michelin, como o Dinner by Heston Blumenthal, o La Mar by Gastón Acurio, o Nobu by the Beach ou o Ariana’s Persian Kitchen, onde almoçámos depois de uma manhã bem passada no belíssimo Spa Awaken a desfrutar do circuito de águas e a despertar todos os elementos em nós – corpo (terra), com salas de sal de haloterapia e jardins de meditação de ligação à terra; mente (fogo), com a sauna a carvão e o tepidário; emoção (água), para libertação emocional na piscina de hidroterapia, sauna ou duche de alquimia; e espírito (ar). O Elements Retreat do Awaken foca-se em conduzir os seus hóspedes a um estado de auto-realização que, confirmamos, é possível de atingir.
Já no espaço da chef iraniana-americana Ariana Bundy, encontramos abordagem autêntica e saudável à cozinha persa, onde frutas, nozes, plantas herbáceas e fragrâncias florais se fundem magnificamente com carnes, grãos e vegetais. Destaque para a frescura da Salada de melancia, cerejas e queijo feta, o Taranchini, o Ghormeh sabzi, Kabab koobideh, ou o Arroz com ouro 24K, a Baghlava qazivini e o Gelado de orquídea selvagem.
A agenda aperta e, em vez de ficarmos a digerir a experiência persa numa espreguiçadeira de praia, seguimos para o Paus; (assim mesmo, com “;”, que é o símbolo universal de saúde mental), um templo de bem-estar que acaba de inaugurar no Dubai. Recebe-nos um espaço amplo, de paredes claras, decoração minimalista, com janelas amplas, plantas e muita luz natural. O spot ideal para quem procura equilibrar a vida corrida com uma merecida pausa a meio do dia. Criado por Sophiya & Sarah Faizal, duas irmãs, este é já o segundo centro que abrem na cidade. Aqui encontramos uma oferta ilimitada de atividades, como deep stretch yoga, pilates no reformer, treino de força e sound healing, assim como padel, nos campos indoor.
Aqui vamos experienciar uma sessão de Journaling acompanhado de um Matcha (um muito anti-oxidante batido de chá verde), duas dinâmicas de grupo compostas por conversas e partilhas emoções que a comunidade que frequenta o Paus; pratica às terças, sábados e domingos de manhã. O Paus; dispõe de um programa de coaching personalizado orientado para a construção de novos hábitos e rotinas que pretendem ajudar a equilibrar áreas como Amor, Saúde, Trabalho e Diversão. Estão previstos também a criação de um spa, um restaurante e uma zona de co–working para melhor receber esta comunidade cada vez maior de utilizadores.
DIA 3
SEVA | Avatara Dubai Hills
Ao terceiro dia, o jet lag já quase não faz mossa. As quatro horas adiantadas no relógio só custam ao acordar. Os matchas e os cafés vão ajudando a manter os níveis de energia. Mas não somos super-heróis e algum dia teríamos de sucumbir ao cansaço. Hoje foi o dia. Em plena sessão de sound healing, no SEVA – uma vila numa zona residencial que é um centro de bem-estar holístico fundada há 10 anos por Shadi Enbashi e Eda Güngör –, a Fora de Série desconectou-se verdadeiramente. Talvez impulsionada pelas experiências dos dias anteriores, ou quem sabe embalada pelo som das taças tibetanas a vibrar na barriga e da voz melodiosa no terapeuta que conduzia a sessão. Oooooommmmmm. Shantiiii-shaaaaantttiiiiiii. Apagámos. E que bem que soube. De repente, o significado de Seva em sânscrito, fez todo o sentido: significa ato altruísta de serviço e este desligar por completo que opera milagres no cérebro foi uma verdadeira dádiva. Voltámos à vida mesmo a tempo de almoçar no plant based café da comunidade, sem wi-fi, onde o foco é o aqui e o agora, a cura, o convívio no mundo offline, e a divinal comida natural e tão colorida que é servida.
O festim das arábias para os nossos sentidos não podia terminar sem passarmos pelo Avatara Dubai Hills, um requintado restaurante galardoado com uma estrela Michelin que serve gastronomia vegetariana-indiana. O chef, Rahul Rana, oriundo da zona dos Himalaias, na Índia, aplica aqui os conhecimentos de cozinha vegetariana que adquiriu na comunidade onde cresceu. Dali trouxe também a paixão pela culinária, possivelmente herdada do avô, que foi chef dos marajás. Não é de estranhar, por isso, que o Avatara seja o único restaurante de fine dining vegetariano estrelado do Dubai – e do mundo. Delicados e próximos de obras de arte, cada prato surpreende pela aparência cuidada, pelo sabor e pelas texturas. Sem dúvida, a repetir.































